
Em um supermercado, um moleque dos seus três anos de idade berra, rola no chão, prende a respiração até ficar azul, arranca os cabelos, chama a atenção de todos os que estão ali por perto - inclusive o da mãe dele, o que não tem muita importância, já que seu objetivo principal é fazê-la passar por tal constrangimento. Quer porque quer uma caixa de bombom. A mãe pega o menino pelo braço, sai do supermercado e lá fora dá uma bronca federal, com direito a um tapa na bunda. Eles voltam e fazem as compras normalmente.
Cena 2:
É uma loja de brinquedos dentro de um shopping. O menino grita, esperneia, derruba brinquedos. Quer um super-robô-que-fala-faz-contas-e-imita-a-britney-spears. Esmurra a mãe e diz que vai morrer. A progenitora é incisiva: segura o moleque e fala em um tom de voz calmo, com muita segurança. Ela diz que o menino está se comportando muito mal e que, por isso, ele vai ficar de castigo ali mesmo. Coloca o filho em um lugar específico e vai andar pela loja, sempre de olho nele. Ao final de um tempo determinado, ela vai ao lugar onde deixou o menino. Ele pede desculpas e os dois voltam às compras.
Cena 3:
Em um parque de diversões, um pentelho está se esgoelando, vermelho, esparramando a pipoca que segura em uma das mãos, enquanto aponta para um algodão-doce: ele quer a guloseima de qualquer jeito. A mãe diz que ele já está comendo a pipoca pedida antes, não dá para comer outra coisa. Ele insiste, pula, xinga e bate na coitada. Ela vai na carrocinha e compra o tal algodão-doce. O moleque se empanturra, feliz da vida, pára de chorar e continua seu passeio pelo parque de diversões.
Algumas conclusões a que podemos chegar depois das três historinhas - que são reais e foram vistas pelo narrador.
Primeiro: notaram que só apareceram mães? Pois é, são elas as verdadeiras criadoras, são elas as responsáveis pelos limites e traumas da criança. Claro, estou generalizando. Mas imaginem a pressão, a carga de responsabilidade que carrega um ser humano que precisar criar um outro ser? Tudo em nome de um sistema que coloca o macho como provedor dos alimentos-dinheiro-roupas-etc-etc em casa e que, por isso, não tem tempo para se preocupar com a criaçãos dos filhos. E quando arranja esse tempo, é de uma sensibilidade paquidérmica. É óbvio que a criação das crianças deve ser uma co-responsabilidade e que o homem também torna-se "dono" dos medos e libertações futuros de seus filhos.
Segundo: todas as situações foram resolvidas. De uma forma ou de outra, o piti parou. Acredito que cada uma das soluções encontradas terão uma conseqüência a curto, médio ou longo prazo. Mas são soluções. O que eu não gosto são de receitas. Porque os seres humanos não são feitos de receitas. Nós não respondemos igualmente a cada ação que nos é colocada ou imposta. Somos diferentes, temos reações diferentes. Receitas são feitas para fazer bolo. E nós não somos massa de bolo.
Terceiro: que medo da porra de criar um filho...