
Você gosta da nossa varanda. Da visão, ainda não dá para dizer. Afinal, todas as vezes que sua mãe quer te acalmar, ela te leva lá. Uma brisa leve e a claridade fazem você fechar os olhos e adormecer bem mais rápido. Talvez esses momentos já comecem a criar uma memória sua. Pensamentos que te acompanham durante o sono. Ou lembranças que fazem você sorrir. E gargalhar. Ninguém acredita muito porque só eu e sua mãe já vimos. Não é que você faça barulho de gargalhada, mas faz uns sons engraçados, abre sua boca banguela e se sacoleja todo.
Talvez seus olhares profundos para mim e para sua mãe também te acompanhem durante seus sonhos e quando você fica mirando pro nada, perdido nos seus pensamentos de bebê. Quando você está bem calminho ou enquanto a gente te dá a mamadeira, você fica com aqueles olhinhos vidrados, como se me enxergasse o coração. E a gente fica ali, minutos, um encarando o outro, como se fosse um só organismo, como se soubesse que eu também me alimento disso. Seus olhinhos que ainda não se definiram de que cor serão também me acompanham durante meus sonhos. E pode perguntar para sua mãe, ela terá a mesma opinião: como a gente conseguiu viver sem seu olhar durante tanto tempo?