quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Um grande irmão

Impressionante, o tal do Theo. Está virando um meninão e surpreende a gente o tempo todo. Tivemos que tomar uma série de cuidados para que o ciúme não tomasse conta dele quanto o Tito viesse. Mas acho que não precisava. A personalidade dele seria o suficiente para fazer com que ele vivesse o nascimento do irmão de uma forma toda especial. Theo se vê como um irmão mais velho mesmo: dá banho no Tito, quer pegar no colo, fazer carinho. E entende que eu e a Fernanda tenhamos que dar mais atenção para o bebê. Mas também sabe a hora e como pedir carinho. Quando estou em casa, por exemplo, faz questão que eu leia uma história para ele dormir.



Já tinha aprendido muito com a Fernanda e a força dela, tanto por aguentar a dor do parto normal, quanto na doação sangrenta - e essencial - que é a amamentação. Eu sabia que havia uma loba dentro daquela mulher, esperava essa força dela. Com o Theo é diferente. Meu menino pequeno muda todo dia, nos dá lições preciosas o tempo todo.

Impressionante, o tal do Theo.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Sim, continuo sendo um novato

Pô, eu fiz um blog para meu primeiro filho. Theo nasceu antes da hora (pelo menos da minha hora...), passou dois meses e 10 dias na UTI, entrou na escola, começou a tomar hormônio, cresceu, está perto de fazer 6 anos e agora tem um irmão. Seria injusto eu não voltar aqui e escrever algo sobre o Tito.


Principalmente porque o nascimento do Tito mostrou que eu serei um pai novato para sempre. Dois filhos, duas experiências de parto completamente diferentes. Parto normal e humanizado, na mão de duas profissionais de primeira, como as doutoras Juliana e Rita. A conversa, as risadas, os toques, o contato imediato com o corpinho do Tito. Sim, faz diferença. Afinal, só pegamos o Theo no colo quando ele tinha um mês de vida. É uma vitória também para a Fernanda, cansada de ouvir opiniões sobre quem escolhe parto normal ou cesariana. Pois é, quando deu para escolher, ela mostrou para ela mesma que conseguiria passar pelo normal mesmo depois de ter sofrido uma cesárea.

Voltaram as noites insones, o choro estridente, os banhos com água para todo lado, o cuidado para o xixi não molhar tudo, as preocupações com o olhinho remelento. Mas agora temos outra criança para tomar conta ao mesmo tempo. Mesmo com toda a ajuda da família (muita ajuda da família, diga-se de passagem), a gente fica pensando que a atenção para o Theo está menor, que precisa dar mais carinho para ele e tal. E Theo tem dado uma lição na gente. É um baita irmão mais velho, quer participar do jeito dele e está empolgadíssimo.

Mas talvez a maior diferença esteja na alimentação do Tito, por incrível que pareça. Theo não teve a oportunidade de se alimentar diretamente nos seios da mãe. Não deu. Fernanda agora faz questão de amamentar. Está sofrendo. É mais do que dolorido, mesmo seguindo à risca as orientações das enfermeiras. Mesmo assim, ela amamenta com uma alegria contagiante, conversando com o Tito, tratando o pequeno com um carinho exemplar.

O ano de 2014, que começou mal, não poderia ter um fim mais feliz.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Fim de noite, início de vida

Madruga de sexta para sábado, quase uma da manhã. Toca Epic, do Faith No More, na picape. Luzes piscam e incendeiam aparições relâmpagos de todo tipo de figura. Uma dupla se beija, um cara de chapéu derrama o líquido de uma garrafinha verde goela abaixo, uma menina enlouquecida pula e acena para o DJ. Conversas gritadas ao ouvido. O próprio DJ me chama e me dá uma camisa que ele comprou na Sérvia para mim.
E os encontros. Um amigo que fugiu para a Espanha e agora foge para cá, não desgruda do grande amor. Uma companheira de trabalho diz que o nome de seu primeiro namorado era Theo - foi o que entendi. Um casal diz que está em dívida comigo e com a Fernanda. Precisam visitar o Theo. E o minúsculo colega bovino me conta as últimas de seu trabalho e completa dizendo que vai me indicar estagiários.
O acontecimento é um lapso cerebral-lúdico em minha vida de pai. Na verdade, é um simples piscar de olhos em toda minha vida como ser humano. Nunca fui muito de sair. Já teve vezes em que enfrentei fila para entrar em boate pela simples conversa com os comparsas - e na porta fui embora. Por isso, não é mortal, aliás, não chega nem a ser levemente doloroso deixar de ir a essas festas-com-dança que habitam o imaginário juvenil. Não é que eu tenha preguiça: longe disso. Sempre fui um cara animado. É só chamar que eu estou de pé. E eu gostei mesmo de reencontrar esse refinado grupinho de asseclas que fizeram e ainda fazem parte da minha rebordosa existencial.
Ser pai pode até ser uma boa desculpa para deixar de fazer alguns programas. E até vou usar se for preciso. Mas sempre será apenas uma desculpa. Pelo menos para mim, que nunca fui um guerreiro nato. Mesmo querendo desconstruir uma imagem de bom moço, a possibilidade de passar uma noite de sábado jogando XBox, PS3 ou Wii com o Theo ainda me faz ficar mais animado que me jogar na concrete jungle das comerciais brasilianas de Niemeyer...
Mas quem sabe a gente não enfrenta uma expedição antropológica no meio da noite candanga quando você for mais velho, né, Theo? Por enquanto, tenho que deixar a tal boate, abandonar as pancadas das caixas de som, a dança e as conversas dos companheiros da noite e voltar para casa. Há uma mamadeira esperando para ser degustada por esse menino de olhos vivos e sorriso banguelo. E eu sou o maitre e garçom desse humilde banquete...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Trânsito, meu inimigo

Então, Theo, vou tentar mudar até o dia em que você conseguir perceber o contexto em que está incluído. Mas seu pai odeia o trânsito. Odeia a ponto de se transformar em outra pessoa quando está dentro de um carro. Aliás, sua mãe detesta quando estou dirigindo. Ela tem razão. Eu mesmo me detesto.
Quando estou com alguém no banco do passageiro, até seguro a onda – às vezes. Mas se estou sozinho, viro um animal. Como o Senhor Volante, personagem do Pateta em um antigo desenho. Só não xingo e não dou o dedo. O resto – cortar, acelerar até não poder mais, frear bruscamente, andar devagar só para irritar alguém que antes entrara na minha frente – é válido.
Não me sinto orgulho disso, mas também já tem um tempo que seu pai deixou de se preocupar tanto com a imagem de santinho que carregava. Na verdade, daqui para frente eu tenho uma imagem a zerar. Antes que os conservadores me condenem, já que agora eu sou pai, andei para eles. Theo, não estou aqui para ser um exemplo de perfeição para você. Isso seria injusto e uma pressão pra lá de canalha com você.
Seu pai é uma pessoa normal. Mas isso você só vai entender depois dos 18 anos, sei lá. Por enquanto, só guarde isso na sua cabeça: se seu pai se comportar como um animal no trânsito, pode chamar minha atenção. Estou aqui para ensinar e aprender com você. Vou me esforçar para você não me ver como um mestre infalível, mas só como alguém que se comporta muito mal no trânsito e é um doce de pessoa a pé.
Enquanto isso, vamos tentando mudar. Outro dia, vi que essa mudança é possível. Estava eu na minha, me aproximando de um carro que estava a minha direita. Sem dar seta e de repente, ele foi para a minha faixa, tentando pegar um retorno mais a frente. Eu freei e dei uma buzinada. Ele voltou para a faixa à direita, esperou eu emparelhar, encostou as palmas da mão, como uma prece, abaixou a cabeça e pediu que, por favor, o perdoasse. Bobeira se estressar no trânsito, né, Theo?

sábado, 13 de junho de 2009

Mas que m...

Theo, não posso me aguentar, não posso deixar de falar em uma de suas características mais marcantes atualmente: seu cocô. Sim, por conta do leite que você toma, o número dois só saía de dois em dois dias. Trocamos o leite e, invariavelmente, agora a meleca toma conta de sua fralda diariamente.
E que beleza, filhote! É de dar inveja ao seu tio Felipe Campbell! Geralmente é bastante pastosa. A primeira parte de seu cocô é mais escuro, entre um verde e um marrom. E não dá para ter pressa de trocar. Tem que ter paciência. Somente quando aparece um brigadeiro cheio de pontinhos brancos é que dá para tirar sua calça elástica e limpar.
E o cheiro?
Sério, Theo, dá para sentir lá da sala. Pode se orgulhar, meu filho: é poderoso! Um verdadeiro cheiro de cocô masculino!
Nunca tenha vergonha de falar dessas coisas escatológicas. Eu não vou ter vergonha de conversar com você sobre isso. Aliás, quando junta um bando de homens para falar besteira, taí um assunto que rende horas e horas de risos.
O único fato que me deixa pau da vida – e que te deixará bastante vermelho quando você for mostrar o blog do seu pai para suas namoradas – é quando você inventa de fazer xixi. Além de encher a fralda com aquele líquido amarelado, você tem o seu pai como alvo preferencial. É impressionante! Você espera eu tirar a calça plástica para mirar nas minhas camisas... A última foi na sexta-feira, dia dos namorados de 2009, na hora de seu banho. Você estava peladinho há alguns minutos, enrolado na toalha. Eu te desenrolei e virei seu rosto para mim. Eu conversava com você e você ria. De repente, fez uma cara de concentrado e o jato de xixi veio direto na águia do símbolo dos Ramones...
Tudo bem, não tem problema. Só espero que você tenha paciência quando seu pai for bem velhinho, usando calças plásticas, e você tiver que me trocar...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Seu olhar

Da nossa pequena varanda a visão também não é das maiores ou melhores, Theo. Na frente, dá até para tomar conta do filhos dos vizinhos, de tão perto que é. Do lado esquerdo, uma fresta entre um prédio e outro mostra... outros prédios. E na direita aparecem duas árvores, um poste colorido enorme do posto Peter Pan e a nervosa EPTG. Bom, parte dela. Daqui é possível ver o trânsito, o congestionamento e dizer se vale a pena alguém visitar a gente ou se a gente pode sair de carro.

Você gosta da nossa varanda. Da visão, ainda não dá para dizer. Afinal, todas as vezes que sua mãe quer te acalmar, ela te leva lá. Uma brisa leve e a claridade fazem você fechar os olhos e adormecer bem mais rápido. Talvez esses momentos já comecem a criar uma memória sua. Pensamentos que te acompanham durante o sono. Ou lembranças que fazem você sorrir. E gargalhar. Ninguém acredita muito porque só eu e sua mãe já vimos. Não é que você faça barulho de gargalhada, mas faz uns sons engraçados, abre sua boca banguela e se sacoleja todo.

Talvez seus olhares profundos para mim e para sua mãe também te acompanhem durante seus sonhos e quando você fica mirando pro nada, perdido nos seus pensamentos de bebê. Quando você está bem calminho ou enquanto a gente te dá a mamadeira, você fica com aqueles olhinhos vidrados, como se me enxergasse o coração. E a gente fica ali, minutos, um encarando o outro, como se fosse um só organismo, como se soubesse que eu também me alimento disso. Seus olhinhos que ainda não se definiram de que cor serão também me acompanham durante meus sonhos. E pode perguntar para sua mãe, ela terá a mesma opinião: como a gente conseguiu viver sem seu olhar durante tanto tempo?