sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Eu demoro a entender...

Theo, passado o primeiro susto de quem se aventura a ter um filho, agora volto a escrever para você mais vezes. É hora de encarar o medo e seguir em frente. Mesmo que eu ainda não entenda certas coisas. Ou pelo menos compreenda. Ou ainda só aceite. Mas aí é preciso mais do que fé. Então, eu vou te contar uma historinha que aprendi em um livro do Jean-Yves Leloup. Vou resumir e só repetir as últimas linhas escritas por ele.

Leloup, em sua caminhada de aprendizado pelo mundo, chegou ao Monte Athos, na Grécia. Lá havia um grupo de homens que viviam meditando. Ele queria conhecê-los. Mas é uma região em que, dependendo da época, o sol castiga e o terreno é difícil. Pois bem, depois de um certo tempo, ele nem sabia mais o que estava fazendo em um lugar tão terrível.

Foi quando viu uma cabana e um monge com um rosário. Leloup chegou e o monge não arredou o pé. Sorriu e colocou o dedo diante da boca, deixando claro que era para permanecer em silêncio. Depois de um certo tempo, o monge notou que o peregrino estava tonto. Fez sinal para ele se sentar e saiu andando. Demorou uma hora e meia, deixando Leloup zangado e impaciente. Aí, notou que o monge voltou com uma lata, daquelas de conserva, com água. Sim, o cara tinha andando uma hora e meia, debaixo de um sol escaldante, para trazer um pouco de água para aquele desconhecido visitante tão cansado.

"O menor ato de puro amor, parece-me, é maior que a mais imponente das catedrais... Naquele dia eu entrava, pois, no cristianismo pela porta larga: uma lata de conserva enferrujada, o infinito de um gesto cotidiano... Há anos que este desconhecido sempre silencioso não cessa de sorrir-me: ficou este espinho de água e de luz cravado na carne crestada de minha história".

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Seu primeiro nascimento


O medo faz parte da vida, Theo. Em vários momentos você vai sentir. E na maioria deles, você vai ter que ser mais forte que o medo. Foi assim que aconteceu comigo durante quase duas semanas, a partir do dia 13 de fevereiro. Sim, uma sexta-feira 13. Receber a notícia que você já precisava lutar pela sua vida antes de sair da barriga da sua mãe tornou-se um peso enorme para mim. Porque, ao lado do medo, eu também carregava um imenso sentimento de impotência: não havia nada que eu pudesse fazer. Nada.
Quer dizer, havia. E comecei a alimentar minha fé, minha esperança em pensamentos e palavras. E na certeza que eu tinha que ser forte para manter a sua mãe também forte. Chorei sozinho porque somente com Deus eu podia mostrar meu lado humano e fraco. Naquela hora – que sua mãe e meus amigos e amigas me perdoem, Theo –, eu precisava colocar minha máscara de super-homem e agir com uma tranquilidade que não era minha.
Criei teorias teológicas. Tipo: cada ser humano tem direito a pedir um milagre em toda a vida. E eu implorei pela sua, Theo, e pela sua mãe. Fui a uma missa e só pensava em vocês dois. Sua mãe, ao meu lado, não conseguia se segurar. Mas seu pai foi forte, Theo. Eu tinha que ser forte, eu queria ser forte. Quase desmoronei na hora do Pai-Nosso. Uma menininha, de seus seis ou sete anos, com os cabelos castanhos bem claros, me olhou, sorriu e me deu a mão. Aquela mãozinha delicada, tão pequena… foi como seu eu segurasse a sua mão, ajudasse você nessa sua luta para sobreviver.
Está ficando piegas demais esse texto, mas não tenho como fugir disso, Theo. Porque é incrível como uma pessoa consegue se apaixonar, amar profundamente alguém que ela só conhece através de sons refletidos, que só sentiu com toques pela pele de outra pessoa, que só ouviu as batidas do coração. E aí você nasceu. Eu agora vejo você por uma placa de acrílico. Você está lá, pequeno, muito pequeno. Mas forte de verdade, e não só com uma máscara como seu pai. Eu e sua mãe chegamos perto de você e você se mexe. Nós dois falamos e você responde como se fosse por sinais.

Não dá para pegar você no colo, mas dá para tocar você. Aí eu me sinto forte de verdade, Theo. Você teve seu primeiro nascimento no dia 23 de fevereiro, e toda vez que eu toco em você, eu também renasço. Agora espero te cheirar, te abraçar forte, sentir sua respiração, seu coração aqui pertinho. Agora eu espero seu segundo nascimento.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Amizades

Theo, uma das coisas que você vai aprender na vida é que uma amizade de verdade é a melhor coisa que existe. E eu não estou falando só daquelas pessoas que você procura quando está na pior. Essas são imprescindíveis, mas a melhor característica de um amigo é a total ausência do sentimento de posse.

É assim: você conta um monte de coisas para uma pessoa. Ou então não conta nada - porque às vezes não é preciso dizer nada -, somente se diverte e se completa de uma forma incrível. E aí você passa um mês sem ver a pessoa. E o primeiro sentimento que vem na sua cabeça e no seu coração é: "Caraca, como é bom ver essa pessoa". Não há nada de "poxa, essa pessoa nem me telefonou, nem respondeu um e-mail que eu mandei". Sim, o legal da amizade é essa falta de cobrança. E a felicidade do reencontro.

Digo isso porque você tem potenciais amizades daqui para frente. Veja bem, não estou forçando nada, mas me vejo ao lado dessas pessoas e é tão legal que não dá para deixar de lado o pensamento: "O Theo é minha continuação, minha herança. Seria legal meu filho herdar também as minhas amizades".

Essa aí da foto é a Malu. É minha afilhada, filha do Gustavo e da Letícia. E vai ser sua amiguinha, com certeza. Também tem o Eduardo, filho do Titi e da Graça. Ah, e o Tarsinho, um pouco mais velho, coisa de dois anos, mas acho que isso não vai ser problema. E o filho/a filha do Tio Júnior e da Tia Priscila, que vai nascer em breve. O filhinho do Abelardo também vem aí. E o filho da Tia Cristina.

E não é só gente da sua idade. Tem a Keiny, os dois Felipes (Campbell e Venturim), a Renata e o Marcão, o Guilherme e a Pati, a Priscila, o Cássio e o Vinícius, seus primos Miguel, Maria Eduarda e Júlia, a madrinha Carol, os tios Débora, Rodrigo, Agenorzinho e Camila, seus avós, tios-avós, primos de segundo grau. Ah, e-as-amigas-da-sua-mãe-que-se-tornaram-minhas-amigas: Marcela e João Paulo (ele não é amiga, é amigo...), Lu e Tuca. A lista não acaba: Ju e Juca, Daniel e Elisa, o pessoal do Aqui, o Luizinho, o Cruz.

Com certeza eu deixei de citar alguém. Mas só no blog. E isso é o mais legal da vida, Theo: você ter tantos amigos assim. E poder se divertir com cada um de uma maneira infinita, porque cada um é um mundo diferente. Sua passagem aqui pela terra pode ser muito, muito mais legal com eles do seu lado. E vai ser um prazer me tornar seu amigo.