quinta-feira, 30 de abril de 2009

Seu segundo nascimento

Foram 65 dias. E noites. E madrugadas. E conversas com médicos, enfermeiras, técnicas em enfermagem, fisioterapeutas, fonoaudiólogas. Desânimos, lágrimas e cabeça baixa a cada derrota – como os sete dias em que você ficou gripado, Theo. Mas também sorrisos e comemorações, ainda que contidas, a cada vitória sua. Enfim, você saiu da UTI. Já tinha passado um pouco das 13h30 dessa quarta-feira, dia 29 de abril de 2009. Dia 29, assim como o aniversário da sua mãe. Assim como o casamento de seus pais.

O dia do seu segundo nascimento.

Perdoem toda a pieguice do texto a partir de agora. Depois de 65 dias assim, eu preciso desabafar. De qualquer jeito.

Você foi forte, Theo. Você e seu anjo da guarda. Seus 915 gramas iniciais não foram páreo para vocês dois. Hoje, com 2,015kg, nossas preocupações, graças a Deus, são outras. Agora, como pais "normais", tentamos descobrir se você chora por fome, sono, manha ou fralda cheia. Ou qual é a melhor posição para você quando está com cólica. E qual o melhor horário para as visitas. Ah, Theo, tem um monte de gente que quer ver você e, em vez de ficarmos preocupados ou estressados com tantas visitas, só conseguimos respirar aliviados. Porque você está ali, do nosso lado, com aqueles olhos arregalados, curiosos para devorar o mundo ao seu redor.
Não vou mentir, Theo. Deixei de escrever um tempo para você por causa da minha preocupação. Como sempre, seu pai fingiu ser forte para segurar as pontas. E nesta quarta-feira quase eu não consegui. Todas as enfermeiras e técnicas que cuidaram de você foram mágicas, especiais. Mas três quase fizeram eu cair no choro. Ana Paula, Lídia e Patrícia beijaram você e saíram correndo, dando tchau meio de costas para mim e para a sua mãe. Elas acham que nós não notamos, mas senti que elas não vieram nos abraçar porque estavam com os olhos marejados, assim como eu.
Claro, não vou sentir saudades da UTI. Mas não dá para negar que foi um grande aprendizado. De sofrimento e de alívio. De tristeza e de felicidade. De solidão e de amizade. Quando você for maiorzinho e encontrar algum amigo ou amiga de seus pais, pode abraçar, dar um beijo e agradecer. Todos eles colocaram um tijolinho no muro que protegeu nos três. Todos eles e elas foram responsáveis também pelo seu segundo nascimento.