quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Mais um poema...

O filho que eu quero ter

(Vinícius de Moraes)

É comum a gente sonhar, eu sei
Quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer

Vejo um berço e nele eu me debruçar
Com o pranto a me correr
E assim, chorando, acalentar
O filho que eu quero ter

Dorme, meu pequenininho
Dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho
De tanto amor que ele tem

De repente o vejo se transformar
Num menino igual a mim
Que vem correndo me beijar
Quando eu chegar lá de onde vim

Um menino sempre a me perguntar
Um porquê que não tem fim
Um filho a quem só queira bem
E a quem só diga que sim

Dorme, menino levado
Dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado
De tanta dor que ele tem

Quando a vida enfim me quiser levar
Pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar
No derradeiro beijo seu

E ao sentir também sua mão vedar
Meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar
Num acalanto de adeus

Dorme, meu pai, sem cuidado
Dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado
Com o filho que ele quer ter

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Você mexeu!

Theo, hoje você me deu um dos maiores presentes que um pai pode ter. Estava eu lá, de olho na televisão, assistindo ao Jornal Hoje, e com a mão na barriga de sua mãe. De repente, eu senti algo. Foi rápido. Sua mãe arregalou os olhos. Mas eu estava prestando atenção mais na TV do que no carinho, confesso. Quando a consciência já ia começar a pesar, uma outra pontada. Vinha do meio da barriga e atingiu diretamente a minha mão.

É, você tinha mexido. E pela primeira vez, eu senti.

Mas pai, não foi muito mais emocionante me ver na ecografia?, você poderia perguntar. Já escrevi aqui, Theo: ver você e ouvir seu coração passa mais pelo estágio de tranquilizar meu coração e minha alma do que qualquer outra coisa. Chorei naquele dia pelo simples fato de você estar bem. Mas também prometi, a partir daquele dia, que a preocupação não iria embora, porém, queria aproveitar mais a gravidez.

E esta segunda-feira, dia 5 de janeiro de 2009, perto das 13h30, foi assim. Ver e ouvir você foram fatos emocionantes e tranquilizadores. Mas sentir seu pezinho, mesmo que através da pele da sua mãe, foi como se eu tocasse você pela primeira vez. Naquela hora, eu não chorei. Só senti alegria pelo seu toque, pelo seu contato. Era só felicidade em seu estado mais puro.
Vou guardar aquele momento pro resto da minha vida.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Reflexão de início de ano

"A cada dia que passava, a escolha do Senhor se tornava mais compreensível. Podia ver como a paciência de meu Pai era posta à prova pela Sua criação. Consumimos Sua caridade sem parar de pecar. Assim, Ele precisava de alguém tão simples quanto eu para ouvir a confissão dos homens. Na desolação dos corações alheios, reencontrei o vácuo que sentira dentro do meu próprio peito durante o jejum no alto da montanha; descompensadas, apesar das boas ações que possam ter praticado, as almas contemplam o vazio, diante da memória de seus pecados. Quanta compaixão sentia pelos pecadores! E por isso rezei, implorando ao Senhor que nunca deixasse de falar por meu intermédio."
O Evangelho segundo o Filho, do jornalista e escritor norte-americano Norman Mailer.

Obs.: Só para deixar claro e sem segundas interpretações: a fala é de Jesus. E eu sou um dos pecadores...