terça-feira, 24 de março de 2009

Muito prazer, eu sou a rede

Theo, meu querido filho, depois de muito tempo escrevendo este blog para você, vou te apresentar a internet. Sim, é nela que minhas palavras para você podem chegar a milhares de pessoas (eu escrevi "podem chegar", não necessariamente chegam). Resolvi te escrever sobre isso para que você não tenha uma ideia errada sobre o seu pai quando ele resmungar sobre essas "modernidades".

O assunto surgiu com um amigo do seu pai, o Anderson, que eu conheci na Escalada, foi meu estagiário no Aqui DF e hoje trabalha no site de O Dia. Pois bem, ele me deu a sugestão de ter um MSN e, quem sabe, entrar novamente no Orkut.
Mas, sabe o que é? Eu não quero.

Não é manha, não é que eu seja rabugento com essas coisas tecnológicas, interativas, globais, etc, etc. Simplesmente eu só uso o que preciso. Mínimo, simples. Além disso, manter contato com as pessoas de uma forma tão superficial como a que existe, na maioria dos casos, no Orkut, não me interessa. Pode parecer estranho, e eu escrevi isso para o Anderson, mas adoro a ideia de passar pela vida das pessoas e deixar minha marca – e vice-versa – e pensar na possibilidade de nunca mais encontrar essa pessoa. Ou encontrar de repente. O que faço questão é de manter contato permanente com o meu presente. Quer ver?

Fiquei oito anos sem celular. Uma hora me fez falta. Comprei um. Não tinha interesse em ter um blog. Em um mesmo momento, fui chamado para escrever no bolaetudo.blogspot.com e decidi que era importante eu colocar em letras o que eu estava sentindo ao esperar você, Theo. Entrei nos dois.

Decididamente não sou contra Orkut, Twitter, MySpace, MSN. Acho tudo isso sensacional. Mas só usarei se for prático para mim. Por exemplo, sou um especialista em Google. Eu preciso dele. Não veja isso como uma pré-censura. Se você quiser, te ensino tudo sobre o assunto. Se você quiser, mesmo que não seja útil para você, te coloco em contato com esse mundo virtual e maravilhoso. E, de preferência, que eu te ensine tudo isso de uma forma bem real, ao seu lado, olhando no seu olho, com carinhos, beijos e tudo o que faz um humano ser humano.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Aprenda a falar e fale!

É engraçado como eu já critiquei muito os pais que começam a fazer planos para seus filhos, mesmo antes de eles nascerem. E é mais engraçado como, às vezes, eu me pego fazendo o mesmo. Ah, Theo, não seja jornalista. Ah, Theo, acho que você tem mãos de judoca. Nossa, você tem todo o jeito de quem vai ser um cientista.

Aí a gente olha pro seu rostinho e também já começa a "planejar" sua aparência: a boca é da mãe, o nariz e as orelhas são dos pais, o olho é de mãe também. E as entradas no cabelo? Igualzinho ao pai!

A vida para você, Theo, já começa com uma pressão que não deixa você ser você. E como diz Cat Stevens em uma música, desde que você aprende a falar é ensinado a se calar.


Pode me cobrar: eu vou tentar ao máximo dar a você várias escolhas, várias possibilidades na sua vida. Mas também não dá para negar: vários gostos que eu tenho foram herdados dos meus pais. Eu duvido, por exemplo, que você não seja botafoguense. Já tem até camisa com o escudo do Glorioso para você. Com música, a mesma coisa. Estou falando isso porque você já tem um body e uma camisetinha do Iron Maiden. E na próxima sexta-feira, decidi ir ao show do Iron no Mané Garrincha também para te homenagear. Sim, porque você, nos seus 35cm e 1,170kg, é um guerreiro, um lutador. Mesmo que você não goste de metal pesado no futuro, pelo menos vou cantar pensando em você. E dedico a você, Theo, o Discurso de Churchill, que geralmente é declamado antes de cada show do Iron começar. Ele me lembra sua força, sua garra, sua vontade de viver:

Nós lutaremos até o fim,
Nós lutaremos na França,
Nós lutaremos nos mares e oceanos,
Nós lutaremos com crescente confiança
E crescente força nos ares!

Nós defenderemos nossa ilha
Qualquer que seja o custo!
Nós lutaremos nas praias,
Nós lutaremos em aterros,
Nós lutaremos nos campos
E nas ruas,
Nós lutaremos nas montanhas.

Mas nós nunca nos renderemos!

sábado, 14 de março de 2009

Um pequeno milagre

Saí daqui na quinta-feira cansado do trabalho, mas doido para ver o Theo. Peguei a Fernanda em casa e chegamos ao hospital 0h30, mais ou menos. Ficamos olhando para o nosso gigante e ele lá, dormindo, em uma paz total. Aí chega uma enfermeira, do tipo chegada nossa. E ela faz a pergunta de R$ 1 milhão:

- Mãezinha, você chegou a pegar ele no colo alguma vez?

Claro que não. Então, na moita, no mocó, totalmente quebrando as regras, a enfermeira olha para um lado e para o outro e diz:

- Toda mãe merece pegar o filho no colo. Isso está errado.

Em uma operação de risco, ela coloca uma roupa especial na Fernanda, tira o Theo da encubadora e coloca aquele ser minúsculo pertinho do coração da mãe dele. Não durou nem 15 segundos. A Fernanda dá um beijo na cabeça dele, e o Theo volta pra encubadora. Lá dentro, ele fica com os olhos bem abertos e – eu não estou mentindo nem exagerando – com um sorriso que chegou a levantar as orelhinhas dele.

Ok, o papai aqui só ficou olhando. Mas compartilhar aquele pequeno milagre foi mais do que o suficiente para me sentir pai.

sexta-feira, 6 de março de 2009

11 dias na UTI

Pega o carro. Ré. Acelera até chegar ao portão do condomínio. Freia. Espera o portão abrir. Sai e enfrenta o trânsito da EPTG. Oito minutos entre Águas Claras e Taguatinga Norte, Hospital Anchieta. Mais cinco minutos procurando vaga. Aguarda elevador para evitar a passagem pela Emergência e seus doentes. Dá o nome e o RG. UTI neo-natal. Nome do bebê? Theo. Somos pai e mãe. Passa pelo corredor: de um lado uma espécie de local destinado a missas; de outro, o centro cirúrgico. Abre uma porta. Encosta devagar para não assustar os recém-nascidos. Abre outra porta. Mesmo procedimento. Lava a mão com sabonete líquido seguindo seis passos: primeiros as palmas, depois as costas das mãos, a seguir as laterais dos dedos, em seguida as articulações e unhas, continua com o dedão, e por fim a ponta dos dedos. Enxuga as mãos e aquele cheiro doce arrebata as narinas. Enxuga. Espreme a caixinha que contém álcool gel, 70%. Cheiro forte de álcool. Cumprimenta as enfermeiras, nutricionistas, fisioterapeutas ou médicos que por acaso estejam no local.

Isso se repete duas, três vezes por dia, nos últimos 11 dias. E deve se manter como rotina no próximo mês, mês e meio.

Mas toda vez que eu e sua mãe chegamos perto daquela caixa de acrílico, parece que é a primeira vez. E a última. Temos a impressão que alguma hora o doutor ou a doutora vão chegar e dizer: "Podem levar, ele já está ótimo!". Sem pressa, Theo. É bom chegar ali, abrir aquelas portinhas e tocar em você. Sua mãe desliza o dedo nos seus ralos cabelos e você ensaia um sorriso. Mesmo que seja um espasmo muscular involuntário. Não importa. Para nós dois, Theo, são seus primeiros sorrisos. E você abre seus olhinhos com um esforço tremendo. Olha para nós dois. O sorriso vem de novo, seguido de um bocejo e uma espreguiçada regozijante.

Assim, a UTI perde um pouco de seu tom assustador. É somente o lugar para ver minha vida pulsar, abrir os olhos e sorrir.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Os viajantes

Theo, logo no início de sua convivência coletiva na nossa casa você vai notar que eu e sua mãe temos muitas divergências, muitos gostos totalmente desencontrados. Eu detesto peixe; ela come sardinha crua. Eu não vivo sem um mamão; ela fica brava só de falar em fruta. E nós vivemos muito bem com as diferenças. Aliás, crescemos muito com elas.

Mas se tem algo que nós dois adoramos, ficamos ansiosos, temos taquicardia só de pensar é uma boa e nova viagem. Ou uma boa e velha viagem, não importa.

Antigamente eu gostava de viajar sozinho. Mas aí eu descobri o gosto de encontrar um mundo novo ao lado de uma pessoa. E podes crer que sua querida mamãe tem grande responsabilidade sobre isso. Ela e uma amigona chamada Bel. As duas passaram três meses em Dublin, na Irlanda. Na verdade, não só lá, mas viajaram para diversos lugares da Europa (olha uma fotinha delas em Londres!). E não há momento em que eu converse com sua mãe sobre o assunto e ela não elogie a viagem. Boa parte, tenho certeza, pela companhia. O seu vô Agenor, por exemplo, tem a tia Bel como uma filha.

Pouco depois, também descobri um companheiro de viagem muito legal, o Gustavo (o pai da Malu, lembra dela?). Depois de cobrir a Olimpíada de Atenas, em 2004, nós dois saímos para conhecer Roma e Paris. E é demais quando você encontra um espírito parecido com o seu para compartilhar essas descobertas. No ano passado, eu, sua mãe e seus avós Luiz e Zilda passamos por Paris, Londres, Dublin (graças à insistência de sua mãe...), Praga, Berlim e Amsterdã. E foi uma delícia!

Agora mesmo já estamos fazendo planos para suas primeiras aventuras fora do imenso Condomínio Ouro Verde, localizado no longíquo reino de Águas Claras. Pode preparar a pele e o "sandaum" para pegar uma prainha no fim do ano ou em janeiro. Sua mãe está louca para se deliciar nas cálidas águas dos mares nordestinos. E em 2010, talvez em julho, talvez em setembro, vamos para o Canadá! Sim, sua primeira viagem internacional, cara!

Depois, daqui a alguns anos, você poderá também ter o prazer de viajar sozinho. E mais tarde descobrir as maravilhas de conhecer outros mundos acompanhado. O importante, Theo, é viajar.