sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Espiritualidade x Religião


Quem me conhece sabe que sou um cara religioso. Desde sempre. O contato com algo maior, um ser superior que tenha nos criado sempre me envolveu. É mais ou menos a razão pela qual o ser humano inventou a religião: a procura das respostas essenciais. Ao mesmo tempo, também sempre fui um cara fascinado pelas explicações científicas do início do universo.

Eu não me lembro bem quantos anos eu tinha, mas acho que era menos de dez. Tinha um amigo que era Adventista. Um dia a gente estava na casa dele e a mãe do cara começou a falar sobre a religião. E meu amigo veio me mostrar uma figuras de como seria o fim do mundo. E que o próprio estava próximo. Pronto. Minha curiosidade (na falta de uma palavra melhor) explodiu de tal forma que eu quis me aproximar dos adventistas. Um dia até fugi de casa para assistir a uma escola dominical que eles tinha.

Era hora da minha mãe agir e ela me colocou na primeira comunhão, no catolicismo. Novamente a curiosidade aflorou ao ver aquele cara barbudo morrendo pelos nossos pecados. Abracei a Igreja Católica por um tempo. Mas na época da faculdade resolvi procurar outros caminhos. Cheguei a assistir um culto Batista, participar de orações espíritas e até sobre ocultismo eu andei lendo (mas tive uma infecção feia por conta da poeira na Biblioteca da UnB e deixei quieto). Voltei ao catolicismo. Decidi que aquela seria minha religião. Fui coordenador de um dos maiores movimentos de Brasília, quase comecei a estudar para ser padre, tive decepções, decepcionei muita gente e agora estou um pouco afastado. Da igreja, com i minúsculo, o espaço físico. Espiritualmente continuo com a mesma curiosidade expansiva que tinha na minha infância – apesar de saber que corro o risco de ser criticado pelos livros de Leonardo Boff que leio (ops, falei...).

E agora vem a dúvida: o que fazer com meu filho/a? Deixá-lo escolher? Batizá-lo e cuidar para que ele/a seja católico/a também? Sei que os conservadores, aqueles cobertos com a crosta do servilismo e da ignorância baseada em uma falsa fé vão dizer que eu tenho que cumprir minha função de pai e católico. E eu farei isso. De boa vontade, sem hipocrisia. Mas taí outra conversa que terei com ele/a, não mais e nem menos importante como aquela sobre sexo. Minha esperança é que a criação que eu e Fernanda demos seja o suficiente para ele/a não se torne acomodado/a e tenha a personalidade para escolher seu próprio caminho.

Paz e Bem!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

E por falar em adolescência...


Taí uma fase da vida que a gente esquece. Os jovens realmente são uns injustiçados. Mas os adolescentes também são perversos. Busque na memória e você lembrará do que sofreu e do que fez sofrer. Estou ouvindo muito o disco Accelerate, do REM, e tem uma música chamada Supernatural Superserious. Tinha me esquecido como eu era inseguro. E ao mesmo tempo sem medo. Aqui vai um pedaço da música (e uma tradução meia-boca). Boa sorte, filho/a: vou tentar pelo menos não atrapalhar quando você chegar nessa fase...

Everybody here
Comes from somewhere
That they would just as soon forget and disguise
At the summer camp where you volunteered
No one saw your face, no one saw your fear
If that apparition had just appeared
Took you up and away from this place and sheer humiliation
Of your teenage station
Nobody cares, no one remembers and nobody cares
Yeah you cried and you cried
He’s alive, he’s alive
Ah, you cried and you cried and you cried and you cried

(Todo mundo aqui
Vem de algum lugar
Que iria esquecer tão cedo e disfarçar
No acampamento de verão onde se voluntariaram
Ninguém viu seu rosto, ninguém viu o seu medo
Se aquela aparição tinha acabado de surgir
Leva você para cima e para fora deste lugar e da grande humilhação
De sua estação da adolescência
Ninguém se importa, ninguém se lembra e ninguém se importa
É, você chorou e você chorou
Ele está vivo, ele está vivo
Ah, você chorou e você chorou e você chorou e você chorou)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Em nome do pai


Eu sempre tive problema com meu nome. Durante o primeiro grau, era chamado de Luiz por causa da chamada. Depois, no segundo grau do Objetivo (que não tinha chamada) e na FAC, me apresetava como Leo. Mas tem gente até hoje que não tem idéia do meu nome. Do meu nome duplo. Do meu fardo enquanto aborrecente. Luiz Leonardo. Acho que meus pais ficam meio aborrecidos quando falo mal do nome que escolheram para mim. Mas eles assumiram a responsabilidade.

Não, isso não me criou nenhum trauma irreversível e hoje até brinco com esses dois nomes que são lindos individualmente, mas que, apesar de todo o meu esforço, são brigados um com o outro e só entram na mesma frase quando minha vó Jacyra me chama. E isso me lembra que falta pouco para eu escolher o nome do rebento que está por vir.

Será uma dama? Um varão? Em poucos dias vou saber. Estamos torcendo para que o feto abra as pernas durante o exame - e a ironia é que se for menina vamos ficar torcendo para que ela fique de pernas fechadas por um bom tempo na vida... Só assim para ter certeza sobre o sexo. Compra de roupas, enxoval etc. Tudo isso é fácil e cheio de prazer. Mas e a escolha do nome?

Ok, já temos nossas opções. São nomes um pouco, digamos, diferentes. No início, dizíamos os nomes cheios de orgulho. E aí começamos a ver reações, vejamos, decepcionantes. Para nós. Tinha gente que dizia "Ah, legal. Diferente, né?". Outros, como um certo puliça que conheço, disse na lata que iríamos nos arrepender – o que deixou a Fernanda extremamente irritada. Tá, um pouco irritada. Tem gente que adora, de verdade. Tem gente dizendo que depois todo mundo se acostuma.

É uma grande responsabilidade. O/A menino/a vai viver com isso para o resto da vida. Vai ter apelidos. Vai ser malhado/a. Vai sofrer muito durante a adolescência. Mas, na boa, acho que ele vai penar com isso mesmo que o nome seja o mais comum de todos. Basta ter uma orelha um pouco maior, ou parecer com o Bóris Casoy, ou com aquele personagem da vacinação, ou com a menininha que aparece no pote de uma margarina. O melhor é ter um belo senso de humor, inteligência suficiente e jogo de cintura para levar de boa essa tortura que é passar pela adolescência. Ele/a terá outros problemas bem mais difíceis para enfrentar.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Mais uma historinha


Eram três irmãos. Foram criados somente pela mãe, que ficou sozinha depois que o marido fugiu de casa, perto de 1995. Moravam em um barraco com sala/cozinha, banheiro e dois quartos na Estrutural. Passaram por apertos quando policiais militares invadiram o local e tentaram tirar um monte de gente de lá. Viviam com o dinheiro da mãe, doméstica que trabalhava em casa de família do Lago Norte.

Não é a história dos Três Porquinhos, mas o mais velho era bom construindo coisas, mexendo com máquinas, TVs e até computador. Só tinha o primeiro grau e um curso do Sesi. Não estudava. Tinha o dom e era bom de serviço. O do meio era um problema sério: sempre se meteu em confusão. Na infância, brigava com que se metesse no seu caminho. Mandou um coleguinha para o hospital só por causa de um olhar torto. Era traficante pé-rachado, só fazia era repassar a droga que recebia. Já o mais novo era estudioso. Passou fácil pelo ensino médio e cursava Física na UnB. O verdadeiro orgulho da mãe.

Aliás, a mãe, depois dos filhos crescidos, ficava mais em casa. Os meninos dela agora a sustentavam. Ela preparava comida, lavava roupa e ficava feliz quando os três jantavam juntos em casa, mesmo que depois o mais velho e o mais novo se juntavam para tentar tirar o irmão do meio da vida de bandidagem. Geralmente dava briga e o bicho-solto dormia fora de casa. Na verdade, quase todos os dias o do meio dormia fora de casa.

A mãe morreu. Anos mais tarde, o filho do meio também. Tinha menos de 25 anos, mas quem se mete no crime morre cedo. Todo mundo sabe. Ainda mais se você é pé-rapado. O mais novo se tornou professor universitário. Completava os ganhos com as bolsas de pesquisa que conseguia lá mesmo na UnB. Morreu sozinho, aos 74 anos, recebeu homenagens etc, etc. E o mais velho viveu feliz, em sua ignorância. Casou-se, criou três filhos no Guará, todos com estudo, todos formados. Mas também morreu. Todo mundo morre. E acabou-se.


Moral da história: Aprenda que nem toda história tem moral. Às vezes é só a vida mesmo. Mas daqui a alguns dias eu escrevo uma história bonitinha, com começo, meio e fim. Aliás, com um fim bem feliz.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Coisas que você vai ter que enfrentar



Tem um cara que seu pai gosta muito. Aliás, é até xará do seu pai. Chama-se Leonardo Boff. É meio complicado de ler seus livros, mas pode crer que vale a pena. Passa uma mensagem de integração com o universo, de paz, de participação, de se enxergar e de ser no outro. Ele era franciscano, uma ordem dentro da Igreja Católica. Não vou me alongar agora, mas Boff pediu para sair da ordem por causa de uma série de fatores. Mas não deixou de carregar com ele o espírito dos pobres de Jesus. E também uma inteligência e uma sensibilidade fora do comum. Tanto que os franciscanos fizeram um encontro aqui em Brasília e ele foi convidado. Mas depois Boff teve que retirar sua participação porque, segundo uma entrevista que li no Correio Braziliense, a Arquidiocese de Brasília disse que alguns palestrantes daquele encontro "não estavam em comunhão com a Igreja". Não é verdade, filho/a. Ele está em comunhão com Igreja. Talvez não com o Vaticano, mas com a Igreja, sim. Mas isso eu vou explicar quando você estiver um pouco mais velho. Por enquanto, deixo aqui uma homenagem a Leonardo Boff, aos franciscanos e a todos que lutam pela justiça neste mundo.

Carta aos Governantes dos Povos

Por São Francisco de Assis

A todos os podestás, cônsules, juizes e regentes no mundo inteiro, e a todos quantos receberem esta carta, Frei Francisco, mísero e pequenino servo no Senhor, deseja saúde e paz.

Considerai e vede que "se aproxima o dia da morte"(Gn 47,29). Peço-vos, pois, com todo o respeito de que sou capaz que, no meio dos cuidados e solicitudes que tendes neste século, não esqueçais o Senhor nem vos afasteis dos seus mandamentos. Pois todos aqueles que o deixam cair no esquecimento e "se afastam dos seus mandamentos" são amaldiçoados (Sl 118,21) e serão por Ele "entregues ao esquecimento" (Ez 33,13). E quando chegar o dia da morte, "tudo o que entendiam possuir ser-lhe-á tirado" (Lc 8,18). E quanto mais sábios e poderosos houverem sido neste mundo, tanto maiopulta "tormentos padecerão no inferno" (Sb 6,7).

Por isso aconselho-vos encarecidamente, meus senhores, que deixeis de lado todos os cuidados e solicitudes e recebais com amor o santíssimo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, por ocasião de sua santa memória. Diante do povo que vos foi confiado, prestai ao Senhor este testemunho público de veneração: todas as tardes mandai proclamar por um pregoeiro, ou anunciai por algum sinal, que todo povo deverá render graças e louvores ao Senhor Deus Todo-Poderoso. E se não o fizerdes, sabei que havei de dar conta perante vosso Senhor Jesus Cristo no dia do juízo.

Os que levarem consigo este escrito e o observarem saibam que serão abençoados por Deus nosso Senhor.

sábado, 18 de outubro de 2008

Por que o céu é azul? (Parte 2)


O Nome Disso

Arnaldo Antunes

O nome disso é mundo
O nome disso é Terra
O nome disso é Globo
O nome disso é Esfera
O nome disso é Azul
O nome disso é Bola
O nome disso é Hemisfério
O nome disso é Planeta
O nome disso é Lugar
O nome disso é Imagem
O nome disso é Arábia saudita
O nome disso é Austrália
O nome disso é Brasil

Como é que chama o nome disso

O nome disso é rotação
O nome disso é Movimento
O nome disso é Representação

The Word of this is name
The name of this é isso
O nome disso is place
El nombre of name estace
El nombre do nome Esfera
O nome disso é idéia

O nome disso é Chão
O nome disso é Aldeia
O nome disso é Isso
O nome disso é Aqui
O nome disso é Sultão
O nome disso é África
O nome disso é Continente

O nome disso é Mundo
O nome disso é Tudo
O nome disso é Velocidade
O nome disso é Itália
O nome disso é Equador
O nome disso é Coisa
O nome disso é Objeto

Como chama o nome disso

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Meu fácil trabalho de pai


Minha companheira não é uma grávida que dá trabalho. No início ela teve alguns problemas, mas nada demais. Só repouso, nada de exercícios físicos, nada de exageros. Somente agora ela teve um enjôo. Mas consigo ver nela todo o esforço, todas as dores, todo o mal-estar. Sentir, eu não vou sentir nunca, por maior que seja a ligação emotiva-psíquica que eu tenha com ela. Ponto.

Não que eu seja tão sensível assim para querer sentir as dores dela. Como todo mundo está careca de saber, o limite de dor do homem é muito menor que o da mulher. Não sei se isso é verdade, mas eu também prefiro não saber. Só que, pensando bem, eu tenho quase as mesmas coisas que ela. Senão, vejamos:

- Ela está sentindo azias imensas. Eu tenho gastrite e esofagite, minhas azias são constantes. Até bebendo água, às vezes, eu sinto azia.

- Ela agora começou a enjoar. Eu tenho labirintite, e qualquer crise é suficiente para eu ficar muito tonto e vomitar sem parar.

- Ela está com vontade de mascar chiclete incessantemente. Eu estou com vontade de mascar qualquer tipo de comida incessantemente. O que nos leva ao próximo tópico.

- Ela está com a barriga crescendo e deve ser um peso cada vez maior daqui para frente. Comigo está acontecendo a mesma coisa...

É claro que é brincadeira. Principalmente porque sei que daqui a uns seis meses ela vai passar por dores horrorosas. Agora, a única coisa que eu quero é passar a mão naquela barriguinha, falar com ela e com o bebê, fazer muitos carinhos neles e ajudar no que for preciso. A fase não é nada fácil e o meu trabalho de pai é não atrapalhar, ter paciência, não reclamar, aceitar reclamações, ter paciência, fazer massagem no pé dela, andar devagar com o carro, ter paciência. Muito trabalho? Perto do trabalho que ela vai ter, isso é fichinha...

sábado, 11 de outubro de 2008

SEXO!!!


Ah, que assunto sedutor! Talvez para adolescentes ou adultos ávidos pelo sexo oposto ou pelo mesmo sexo. Ou pelo próprio sexo. Mas ávidos pela troca de fluidos, pelo toque, pelo beijo, pelo olhar ou simplesmente pela pegação em si. Com ou sem amor. Mas sexo. O problema está em conversar com seu filho ou filha sobre o assunto... Problema?

Pode ser divertido, eu acho. Mas todo mundo se lembra de como foi que aprendeu sobre o assunto? Isso é importante, como diria o Ultraje a Rigor:

"Depois aprende por aí que nem eu aprendi
Tão distorcido que é uma sorte eu não ser pervertido"

Tudo bem, é um pouco de exagero da minha parte. Mas minha família sempre teve um pouco de timidez para tratar de sexo. Eu devia ter uns 10 anos e já era um CDF de marca maior, consumia livros e mais livros. Ótima oportunidade para os meus pais. Eles me deram dois livros: De Onde Viemos? e O Que Está Acontecendo Comigo? Foi ótimo, sem brincadeira. Pela idade, eu não tive muita idéia do que fosse o segundo, mas me adiantou alguns processos. Estava tudo lá, muito bem explicado e bonito.

Só que o assunto sexo não é um dia no Beto Carrero World... Existe um lado, digamos, obscuro, um cinza entre o preto-no-branco. Foi só eu fazer as contas e vi que tinha nascido de cinco meses. Fui lá perguntar para o meu pai, já que nunca fui muito bom em matemática. Minha mãe saiu de fininho e, enfim, ele teve que me explicar. E, logicamente, dali por diante outras questões surgiram em conversas com amigos e amigas. E outros traumas a Igreja Católica tratou de imprimir em mim. E a mesma também tratou de me tirar algumas dúvidas, para eu não ser totalmente injusto.

Meu filho/a também terá a hora certa de aprender. Quero estar presente. Também sou um pouco tímido para o assunto, mas quero explicar o lado bonito e físico-químico do processo. Mas sei que, por mais que eu seja aberto e me adiante, não adianta espernear: o mundo tratará de ensinar alguns outros lados da questão. E se eu tiver feito minha parte, meu papel aí é só torcer para ele/a aprenda muito bem.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Saudade do que vou viver...


Frio danado. Um leve cheiro de cinzas no ar. E música. Forró. Tem uma fogueira acesa. Mas só lá bem perto é que dá pra espantar o frio. Porque tá um frio danado. Aquele monte de gente perto das barraquinhas, gritando e acenando para tentar pegar uma cerveja, um quentão, um cachorro-quente.

Junho e julho, com suas festas juninas, o céu azul de dia e o frio birrento à noite. Não sei o porquê, mas é uma das épocas, para mim, que Brasília tem mais cara de Brasília. Não precisam concordar. Mas eu acho. Talvez porque fosse época de férias para mim, eu esperava com ansiedade até o fim de semana para curtir aquelas festas nas quadras do Guará. Todo mundo se encontrava, mesmo continuando perdido depois...

Até hoje eu procuro por festas juninas. Ainda mais quando tem uma galera junto. Aquele frio danado (se bem que, ultimamente, não está tão frio. Coisa de efeito estufa e tal). Hoje em dia dá pra achar festas juninas em maio, em julho e, não se assustem, até em junho.

Pois é, comecei a pensar nisso quando lembrei que no ano que vem terei companhia nas minhas festas juninas. Ele ou ela já vai ter nascido. Vai ter, no máximo, dois meses. Será que vai dar para levar? Com esse frio danado? Acho que se estiver cheio de roupa quente, com cobertorzinho por cima, dá. A gente não fica muito tempo. Só o suficiente para eu comer um pastel de ar, um chocolate quente. Ver a criançada correndo e soltando aqueles estalinhos chatos. E daqui a alguns anos, ele ou ela estará lá.

Sei que alguns estão pensando: "Acabou a mordomia, agora é só cuidar de criança. Viu? Agora mudou sua vida toda por causa de um bebê e nunca mais vai ser a mesma coisa." É verdade. Nunca mais minha vida será a mesma. Assim como mudou quando entrei no segundo grau. Ou passei no vestibular. Ou arranjei uma namorada. Ou aprendi a dirigir. Ou arranjei um trabalho. Ou fui promovido. Ou resolvi casar. Mas eu só consigo pensar nele/a, do meu lado, comendo um cachorro-quente, sorrindo e pedindo para eu comprar estalinhos em uma festa junina. Por enquanto, eu tudo o que eu quero.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O rosto da paz


- Mexe na sua barriga. Pode mexer.

- Olha, ele mexeu também!

- Pois é, basta você encostar aí que o bebê se revira.


Foi o papo do médico com a Fernanda na nossa última ecografia. Eu, no meu cantinho, vendo tudo em uma tela de computador, fiquei boquiaberto. Uma fragilidade enorme, uma vidinha que deve ter pouco mais de um centímetro, e já interage com o mundo exterior. Vi os olhos, os ossos da costela, as pernas...

Não estava nervoso. Mas vi que minha companheira estava extremamente ansiosa nos dias anteriores a essa ecografia. E é preciso paciência nessas horas, né? Ver meu bebê ali, se mexendo, encolhendo e esticando as pernas, ouvir as batidas fortes do coração (o atletinha tem 168 batimentos cardíacos por minuto), tudo isso foi muito bom, foi reconfortante.

Mas não teve nada melhor que olhar para minha companheira nos olhos, ver que tudo nela sorria, sentir uma ligação mais forte do que eu podia imaginar, absorver toda aquela felicidade de mãe.

Foi como ver o rosto da paz.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Por que o céu é azul?


- Pai, por que o céu é azul?
- Por causa de uma combinação de elementos, como o ar, o reflexo da luz do sol e também alguns...
- Mas ele às vezes não é azul, né?
- Não, mas é porque as nuvens tapam a entrada da luz e...
- Pai, brinca comigo de carrinho?
- Mas você não queria saber do céu?
- Era, mas já passou. Quero brincar de carrinho.
- Então tá.
- Pai, como é que o carro faz pra andar?
- Ah, o combustível passar por um cano e entra no motor. Aí, lá dentro, acontece uma explosão e...
- E por que não explode o carro, pai?
- Porque são explosões pequenas, aí...
- Nossa, pai, mas imagina se tem uma explosãozona, enorme, aí todo mundo morre, né, pai?
- Não, mas não tem esse perigo porque...
- Pai, será que dá para fazer uma explosão dessa na minha bicicleta? Aí não ia precisar de pedalar, né?
- Mas isso já existe! Tiveram essa idéia e inventaram a moto!
- Caramba, é mesmo! A moto é uma bicicleta com explosão! E você, pai, já inventou alguma coisa?
- Ué, inventei você! Eu e sua mãe inventamos você!
- Pois eu vou ser inventor! E vou inventar uma coisa bem maluca. Tipo um escudo invisível para que eu pudesse fazer tudo o que eu quisesse. Quando alguém viesse me parar, eu ligava o escudo!
- Mas isso seria perigoso e nada ético. As pessoas não podem...
- Só que eu ia te obedecer, tá, papai? Nunca na vida eu vou te desobedecer, tá, papai?
- Então eu vou te ajudar a criar esse escudo. Quer que eu te ajude?
- Não, pai, quero fazer sozinho e te dar um de presente!
- Então tá combinado! Vamos brincar de carrinho...

Caraca, vou adorar ser pai e ter uns papos bem malucos assim...