quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Mais uma historinha


Eram três irmãos. Foram criados somente pela mãe, que ficou sozinha depois que o marido fugiu de casa, perto de 1995. Moravam em um barraco com sala/cozinha, banheiro e dois quartos na Estrutural. Passaram por apertos quando policiais militares invadiram o local e tentaram tirar um monte de gente de lá. Viviam com o dinheiro da mãe, doméstica que trabalhava em casa de família do Lago Norte.

Não é a história dos Três Porquinhos, mas o mais velho era bom construindo coisas, mexendo com máquinas, TVs e até computador. Só tinha o primeiro grau e um curso do Sesi. Não estudava. Tinha o dom e era bom de serviço. O do meio era um problema sério: sempre se meteu em confusão. Na infância, brigava com que se metesse no seu caminho. Mandou um coleguinha para o hospital só por causa de um olhar torto. Era traficante pé-rachado, só fazia era repassar a droga que recebia. Já o mais novo era estudioso. Passou fácil pelo ensino médio e cursava Física na UnB. O verdadeiro orgulho da mãe.

Aliás, a mãe, depois dos filhos crescidos, ficava mais em casa. Os meninos dela agora a sustentavam. Ela preparava comida, lavava roupa e ficava feliz quando os três jantavam juntos em casa, mesmo que depois o mais velho e o mais novo se juntavam para tentar tirar o irmão do meio da vida de bandidagem. Geralmente dava briga e o bicho-solto dormia fora de casa. Na verdade, quase todos os dias o do meio dormia fora de casa.

A mãe morreu. Anos mais tarde, o filho do meio também. Tinha menos de 25 anos, mas quem se mete no crime morre cedo. Todo mundo sabe. Ainda mais se você é pé-rapado. O mais novo se tornou professor universitário. Completava os ganhos com as bolsas de pesquisa que conseguia lá mesmo na UnB. Morreu sozinho, aos 74 anos, recebeu homenagens etc, etc. E o mais velho viveu feliz, em sua ignorância. Casou-se, criou três filhos no Guará, todos com estudo, todos formados. Mas também morreu. Todo mundo morre. E acabou-se.


Moral da história: Aprenda que nem toda história tem moral. Às vezes é só a vida mesmo. Mas daqui a alguns dias eu escrevo uma história bonitinha, com começo, meio e fim. Aliás, com um fim bem feliz.

5 comentários:

Unknown disse...

Lindão, q história doida. Eu prefiro as que tem um final feliz =)
Bjooos

Anônimo disse...

A vida nem sempre é um conto de fadas, né!?

Bjo

Anônimo disse...

C'Est la Vie...
Tudo de bom ou mal que fazemos tem repercussão na vida dos outros e na nossa.
Acho que a mistura de várias repercussões pode ter um fim infeliz ou enigmático, mas acredito que tudo tem uma origem, uma causa. Difícil ou impossível e saber o objetivo ou finalidade dos acontecimentos. Ou será que nem tudo tem um objetivo? Não pode ser! Muito louco isso, hein, Leo?

Anônimo disse...

Eu adorei a forma que você finalizou o texto, cunhadinho... Muito bom!
Porque enquanto eu lia eu fiquei pensando: "afinal, qual a mensagem que o Léo quer passar? Além, claro, daquele sábio ensinamento que as pessoas pagam por seus atos quando você fala que 'quem se mete no crime morre cedo'"... e aí você veio com o desfecho que achei muito sensato (não sei se é bem essa palavra, mas não estou encontrando outra e estou correndo aqui no trab...rsrs).
Beijos para os 3!
Carol

Felipe disse...

Adorei o texto. Melhor que aquelas crônicas polianas. No próximo, podia ter foto dos corposo e mais detalhes dos crimes. Aqui-DF no blogspot!!!

O nome do cara era João de Santo Cristo?