sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Mais uma história com moral


Era um campo de várzea. Desses que qualquer um, pobre, rico, filho de deputado ou de gari pode jogar porque é de graça. Um campo onde se encontravam alguns raros tufos de grama. Lá estavam Altino e Chicão. O primeiro jogava o fino, tratava a bola como uma amante, dormia com ela, a chamava de "meu amor" e contava com sua cumplicidade para fazer dos adversários um bando de bobos. Já Chicão era grande, parrudo, pescoço troncudo e de um futebol mais grosso que saco de enrolar prego. Chamava a bola de "vossa senhoria" e não tinha qualquer intimidade com a redonda.

Os dois eram marrentos, cada um a seu estilo. Às vezes, em uma pelada de domingo, Altino passava de Chicão e dava uma risadinha sarcástica. Outras vezes, Chicão dava um tranco em Altino que deixava o craque mais perdido que menino-sem-a-mãe-em-liquidação-na-feira-do-Guará. Depois de cada racha, dividiam um guaraná e estava tudo bem.

Num desses "guaranás", um resolveu tirar onda com outro. Chicão começou. Disse que tinha muito mais chance em um time de futebol profissional do que Altino. Claro, risada geral. Altino, com um risinho no canto da boca, falou para Chicão parar de falar besteira. Tinha gente rolando no chão, passando mal de rir. Chicão não arredava o pé: jogava muito mais bola que Altino.

Por acaso passava por ali um técnico profissional. Seu time disputava a segunda divisão do estado e com algum esforço poderia entrar na primeira divisão do próximo ano. Já experiente, com quase 70 anos, era respeitado no local. E sempre acompanhava as peladas por ali. Chamaram o tal técnico: e aí, quem era melhor, Altino ou Chicão? Colocaram os dois para jogar. Altino apresentou todas as suas armas, seus melhores dribles, seus mais bonitos gols. Conseguiu passar três vezes por Chicão. As outras 16 ficou na muralha-humana. Mas nas oportunidades que venceu o zagueirão, fez os gols. No fim, a pergunta para o técnico, que respondeu sem titubear, para surpresa de todos:

– É óbvio que o melhor é o Chicão. Com três desse tipo, não há time que consiga vencer o meu!


Moral da história: Quem nasce com o espírito pequeno, pode vestir qualquer roupa, pode se travestir de qualquer profissão. Mas morrerá com o espírito pequeno. E nunca vai conseguir enxergar que a beleza, na maioria dos momentos da vida, é bem mais importante que o pragmatismo.


(Livre adaptação de fábula de Monteiro Lobato)

4 comentários:

Unknown disse...

Lindão, vou ser sincera... não entendi nada! hahahahaha... me explica!?
BJOOOOSSSS
(Te amo - de verdade)

Anônimo disse...

Ferds,
entendi que o técnico tinha espírito pequeno, apesar de ser respeitado por todos.
Preferiu o futebol bruto ao futebol arte. Queria resultado em vez de beleza.

Leo disse...

É isso aí, Titi!

Anônimo disse...

Obrigada pela explicação!!! É q futebol não é minha área kkkkk...
Bjs